Uma mostra e uma coleção com foco em dois eixos

O primeiro eixo da exposição retoma os pioneiros do audiovisual experimental no país, um grupo que desde a década de 1970 explora esses recursos; o segundo retrata a produção na atualidade. Veja abaixo a descrição dos trabalhos dos artistas que compõem este recorte do acervo do Itaú Cultural.

Partida (2005), de Alberto Bitar

(5 min, vídeo com som, produzido a partir de fotografias, projeção em single channel)

Escolhida de um antigo álbum de fotografia da avó materna, a fotografia de um grupo de pessoas reunidas em uma estação de trem na cidade do Rio de Janeiro, é o ponto de partida para a narrativa visual do artista. Feito em homenagem à mãe, falecida em 2001, e à filha, nascida em 2002, Alberto Bitar investe sobre a imagem documental, estática, uma implacável temporalidade, sobrepondo e fragmentando a unidade da fotografia em uma múltipla percepção de sua historicidade.

 

Passagens # 1 (1974), Anna Bella Geiger

(12 min, portapak transferido para vídeo HD, projeção em single channel)

Por meio de uma narrativa sem começo nem fim, o trabalho revela a expressividade formal de uma mesma ação – o ato de andar pelos degraus de uma escadaria –, apresentada repetidas vezes. Anna Bella Geiger faz parte da geração pioneira de videoartistas brasileiros. Realizou cerca de três obras utilizando o portapack, primeiro equipamento de vídeo portátil disponível no mercado audiovisual da época. Em seus trabalhos a relação entre a ação e o procedimento de captura da imagem cria um modelo narrativo próprio da linguagem da videoarte, frequentemente presente na produção daquele período histórico.

 

Coletas (1998/2005), de Brígida Baltar
(16min36s, vídeo e filme em 16 mm transferido para digital, exibido em oito telas de LCD)

Ao criar uma relação intrínseca entre a performance e seu registro em vídeo, a obra mostra a artista coletando na paisagem, em pequenos frascos, a neblina, a maresia e gotas de orvalho. Na obra de Brígida Baltar estabelece-se uma relação ontológica entre a natureza e a personagem feminina, presente em toda a sua obra videográfica. O campo da linguagem audiovisual é explorado a partir do gesto de coletar elementos fluidos e a aparente falta de sentido ou função para essa atitude.

 

El Pintor Tira el Cine a la Basura (2008), de Cao Guimarães

(5min44s, HDV, cor, áudio 5.1, projeção em single channel)

O vídeo Da janela do meu quarto (2004), também de Cao Guimarães, é projetado na parede de uma galeria – e se abre para as intervenções de um pintor. Projeção e pintura se misturam na mesma superfície, formando uma reflexão sobre os caminhos que o cinema pode tomar.

 

Cinema (2009), de Eder Santos

(13min13s, vídeo Full HD, projeção em single channel)

Ao transformar aspectos prosaicos do cotidiano em fenômenos poéticos, a obra explora o tempo próprio de uma série de objetos e situações registrados no interior de minas gerais. O artista, em grande parte de suas obras em vídeo, busca uma sensorialidade audiovisual irresistível, marcada por um frenesi de imagens que se articulam ao ritmo de uma trilha sonora.

 

 

Memória (2001), de Eder Santos

(4min8s, videoinstalação [cristaleira e objetos de cristal/dimensões variáveis]).

Sobre os objetos dispostos dentro da cristaleira, o tempo é recriado a partir da projeção de imagens fugazes. Como mosaicos eletrônicos, as imagens são impuras, distorcidas e impregnadas de maneirismos, ressaltando as falhas, os ruídos e a instabilidade das lembranças inscritas na memória.

 

Amoahiki (2008), de Gisela Motta e Leandro Lima

(8 min em looping e som estéreo, vídeo full HD, projeção HD sobre tela e ventilador)

Realizado a partir de uma visita à aldeia Ianomâmi Watoriki, em Roraima, o vídeo apresenta uma visão onírica sobre a floresta e seus habitantes. À imagem da floresta, verde e densa, sobrepõe-se de maneira quase imperceptível a figura dos habitantes da floresta, em danças e rituais xamânicos. Amoahiki significa árvore que emite cantos. O vídeo é uma Interpretação holística da natureza vista ao mesmo tempo como terra-floresta e visualidade, poética e acústica

 

Marca Registrada (1975), de Letícia Parente

(9 min, portapak transferido para vídeo HD, projeção em single channel)

Em um único plano-detalhe, filmado por Jom Tob Azulay, a artista borda a frase “made in brasil” na sola do próprio pé. É considerado historicamente um dos vídeos mais importantes da trajetória da artista e o que representa mais precisamente a relação entre estética e política no contexto artístico brasileiro nos anos de exceção provocados pela ditadura militar no brasil.

 

Mar (2008), de Letícia Ramos

(Madeira, projetor e vídeo transferido de 35 mm)

A caixa de madeira, como um farol que emite luz, projeta imagens do mar. O processo de criação da artista passa pelo desenvolvimento técnico-científico de produção de imagens e dispositivos de projeção que ampliam e recriam a experiência de ver estas imagens. Sua obra é como uma metáfora poética da importância que o cinema adquiriu em nossa cultura. Seus vídeos, esculturas e dispositivos de gravação e filmagem são como uma evidência concreta do que ainda há de sublime na experiência de se produzir e visualizar uma imagem em movimento.

 

Projeção 0 e 1 (2012), de Luiz Roque

(6 min, vídeo full HD, projeção em dois canais sincronizados)

Entre duas projeções análogas, a paisagem e a luz solar são

estilhaçadas por uma superfície artificial e transparente. O espectador, em vez de olhar a paisagem, se sente observado por ela. Gravado com uma câmera que alcança 2.500 frames por segundo, alterando radicalmente o tempo de duração da imagem, este trabalho trata das formas de representação da realidade e seus simulacros.

 

Homenagem a Steinberg – Variações sobre um Tema de Steinberg: as Máscaras Nº 1 (1975), de Nelson Leirner

(7 min., super 8 transferido para vídeo HD, projeção em single channel)

Com ironia e nonsense o artista faz uma crítica aos costumes da sociedade de consumo. Fazendo referência aos hábitos da classe média brasileira, pessoas realizam atividades cotidianas usando máscaras pintadas em sacos de papel pardo – semelhantes às criadas pelo artista plástico Saul Steinberg nas décadas de 1950 e 1960.

 

Registros (Meu Cérebro Desenha Assim) (1979), de Paulo Bruscky

(4 min, u-matic transferido para digital, projeção em single channel)

Esta videoperformance é uma das experiências realizadas pelo artista utilizando a máquina de eletroencefalograma para captar os efeitos psíquicos de seu estado emocional. A estranheza do fenômeno e a trilha sonora abstrata conferem ao vídeo um tom surrealista e de ficção científica.

 

Xeroperformance (xerofilme) (1980), de Paulo Bruscky

(40s, super-8 transferido para digital, projeção em single channel)

Animação de uma série de fotocópias feitas pelo artista, capturando através da máquina Xerox as feições alteradas de seu próprio rosto. Bruscky utiliza de forma criativa e irônica o recurso da tecnologia, subvertendo a lógica da representação naturalista e da verossimilhança entre a imagem e o real.

 

After a deep sleep (Getting Out) (1985), de Rafael França

(5min, u-matic transferido para digital, projeção em single channel)

Objetos do cotidiano assumem significância psicológica, quando a personagem expressa opressão em relação ao ambiente doméstico. Neste trabalho o artista explora aspectos da narrativa, experimentando desconstruir o tempo da representação naturalista a partir de um exercício de edição e corte descontínuo. Uma obra que demonstra o rigor formal da sua linguagem e a busca pelo artista de um modo de operação do código da imagem, algo muito próprio e peculiar do seu trabalho, numa época em que o desenvolvimento da tecnologia do video implicava certamente em constantes reinvenções da linguagem.

 

A arte de desenhar (1980), de Regina Silveira 

(2min38s, portapak transferido para vídeo HD, projeção em single channel)

O vídeo mostra uma espécie de jogo no qual mãos tentam imitar as formas e os gestos de sombras ou silhuetas de outras mãos. As imitações bem-sucedidas recebem salvas de palmas. A partir de uma proposição conceitual, a artista elabora um vídeo metalinguístico em que o ato performático de mover as mãos ocorre a partir do próprio dispositivo de elaboração do gesto criativo. Uma espécie de manual poético de composição da forma e do significado.

 

Sunday (Domingo) (2010), de Rivane e Sergio Neuenschwander

(5min17s, vídeo Full HD, projeção em single channel)

A cena é prosaica: a área de serviço de uma residência, uma gaiola, o papagaio, um rádio de pilha e a locução de uma partida de futebol. Imagem que nos remete ao ambiente doméstico e familiar de um domingo tipicamente brasileiro.

Mas, estranhamente, ao comer sementes grafadas com os sinais ortográficos da língua portuguesa, inusitadas interferências acontecem na narração radiofônica.

 

Triunfo Hermético (1972), de Rubens Gerschman

(12 min,16 mm transferido para vídeo HD, projeção em single channel)

Síntese do pensamento do diretor, o vídeo tem como referência as grandes esculturas de palavras que Gerchman começou a construir em 1971. Relacionando esses signos verbais com a natureza e os elementos primários (terra, fogo, água e ar), o artista cria, por meio da linguagem do cinema e recursos de animação, alteração da velocidade e narrativa não linear, um poema visual em movimento.

 

Translado (2008), de Sara Ramo   

(7min46s, vídeo HD, projeção em single channel)

Atuando em primeira pessoa em suas performances, a artista cria situações inusitadas – como dançar com um boneco de papelão, banhar-se entre dezenas de bacias ou desarrumar uma cozinha – ao longo de narrativas em Pequenas histórias de transcorrer e final surpreendentes. Aqui a artista retira de uma mala um número incalculável. De objetos até preencher todo o espaço de um quarto. Ao final, a própria artista desaparece, ao entrar naquele. Objeto mágico, que guarda certa semelhança poética com a toca do coelho de Alice no país das maravilhas.

 

 

Planeta Fóssil (2009), de Thiago Rocha Pitta

(16 min, vídeo, projeção em single channel)

O trabalho cria um ambiente no qual a água, o fogo e a terra se encontram em plena mutação. Interessado nas formas de representação da natureza e nas metáforas criadas a partir da relação entre o real e a linguagem, o artista recria, pelo enquadramento e de planos detalhes, a narrativa própria aos documentários científicos tão comuns nos canais de televisão.

 

 

 

 

 

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