TRILHA DA OCUPAÇÃO
A mostra passo a passo
A Ocupação Dona Ivone Lara apresenta a história desta mulher que, com mais de 90 anos, segue cantarolando e ocupando no mundo um lugar de destaque. Com esse espírito, a curadoria, desfia a vida da sambista em cerca de 100m2 por cinco eixos temáticos: O canto dos mais velhos, O bordado dos encontros, O enredo da festa, A composição do viver e Tanger as cordas do hoje.
O canto dos mais velhos
Alinha a sua história com a dos ancestrais e figuras importantes na formação de Ivone. Veja alguns deles:
João da Silva Lara (pai) – Tocava violão sete cordas e frequentava o Bloco dos Africanos, de Vila Isabel, ladeado de nomes como Pixinguinha.
Emerentina Bento da Silva (mãe) – Era crooner do rancho Flor do Abacate, um dos mais famosos do Rio. Frequentava também outro rancho tradicional, o Ameno Resedá.
Dionísio Bento da Silva (tio) – Um dos precursores do trombone no choro, ele tocava no Bloco dos Africanos. Também tocava violão sete cordas e cavaquinho. Aliás, foi no cavaquinho dele que Ivone aprendeu a tocar, além de ver o tio receber nomes como Pixinguinha, Jacob, Cândido Pereira das Neves, entre outros, em saraus na sua casa em Inhaúma.
Lucília Guimarães Villa-Lobos – A principal descobridora da voz de contralto de Ivone. Mulher de Heitor Villa-Lobos, ela era professora de canto orfeônico no Orsina da Fonseca. Quis educar a voz de Ivone. Conseguiu, em partes.
Zaíra de Oliveira – A soprano de formação clássica, ao contrário do que muita gente diz, não foi apenas a “mulher do Donga”. Estudante de canto lírico no Instituto Nacional de Música, onde foi premiada e sofreu com o racismo, ela também foi professora de Ivone nas aulas de canto orfeônico.
Heitor Villa-Lobos – Foi o grande “catequizador” da “alva europeização” nacionalista e civilizatória proposta por Getúlio Vargas no campo educacional/musical. Chegou a reger corais mirins (do famoso canto orfeônico) para 50 mil pessoas. E para públicos “menores”, de 12 mil, em São Januário.
Seresteiros – Ainda sobre a casa do Tio Dionísio. Ivone dizia sobre aquela época: “O rádio éramos nós mesmos”, sobre o baixo poder aquisitivo da família, que não tinha rádio. Mas havia os dos vizinhos e com o tempo a família comprou um. Enfim, a música chegava até a garotinha. Entre os sons que a marcaram estavam Francisco Alves, Noel Rosa, Mario Reis, Aracy de Almeida, Emilinha Borba e, principalmente, Dalva de Oliveira. Quando a mãe de Ivone, Emerentina, morreu, a menina já estava no Orsina da Fonseca, e não podia ouvir uma canção na voz de Dalva, pois lembrava-se da mãe.
Jongueiros – A ligação de Ivone com o morro da Serrinha começa no fim da década de 1930. São vários os nomes que aparecem na Ocupação, como Vovó Teresa, Vovó Maria Joana Rezadeira, Tia Maria, Darcy do Jongo, o próprio Aniceto Menezes, entre outros.
O bordado dos encontros
Trata de seus parceiros, amigos, colegas e amores, em seus diversos momentos. Conheça alguns deles:
Oscar Costa – Ciumento marido com quem Ivone foi casada de 1947 a 1975. Filho do fundador da Prazer da Serrinha (Seu Alfredo Costa), Oscar gostava de música, mas não admitia que a mulher circulasse em meio àquela boemia toda.
Dra. Nise da Silveira – A psiquiatra alagoana teve influência determinante na carreira de Ivone como assistente social, especializada em terapia ocupacional. Ela revolucionou o tratamento de doentes mentais no país ao trocar práticas como eletrochoque, lobotomia e outros procedimentos agressivos pela arte como meio fundamental para a recuperação e a ressocialização de doentes. Com esse trabalho, tornou-se uma referência no mundo.
Iberê Cavalcanti (e o cinema) – Em 1977, o cineasta convidou Ivone para participar do filme A Força de Xangô, com Elke Maravilha, Zezé Motta e Grande Otelo no elenco. O filme foi rodado na Bahia. Ivone fazia o papel de Zulmira de Iansã, descobria uma traição do marido e investia contra ele com uma faca. Ivone foi muito elogiada por sua atuação.
Parceiros – Um painel evidencia os principais parceiros de Ivone Lara: Delcio Carvalho; Jorge Aragão, Hermínio Bello de Carvalho e Silas de Oliveira. Eles constam na lista das composições de Ivone que foram mais regravadas, segundo o Ecad (veja abaixo). Outras grandes personalidades do universo musical e das letras também figuram como seus grandes parceiros – entre eles, Sombrinha, Arlindo Cruz, Nelson Sargento, Caetano Veloso, Bruno Castro, André Lara (neto), Nei Lopes, Mario de Andrade, Zé Luiz do Império etc.
AS 10 MÚSICAS MAIS REGRAVADAS DE IVONE
1º Sonho Meu (Yvonne Lara/ Delcio Carvalho)
2º Acreditar (Yvonne Lara/ Delcio Carvalho)
3º Tendência (Yvonne Lara/ Jorge Aragão)
4º Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço (Yvonne Lara/ Hermínio Bello de Carvalho)
5º Alguém Me Avisou (Yvonne Lara)
6º Enredo do Meu Samba (Yvonne Lara/ Jorge Aragão)
7º Alvorecer (Yvonne Lara/ Delcio Carvalho)
8º Nasci pra Sonhar e Cantar (Yvonne Lara/ Delcio Carvalho)
9º Os Cinco Bailes da História do Rio (Yvonne Lara/ Silas de Oliveira/ Antônio Bacalhau)
10º Liberdade (Yvonne Lara/ Delcio Carvalho)
O enredo da festa
As celebrações, assim como as escolas de samba Prazer da Serrinha e Império Serrano, compõem este enredo:
Prazer da Serrinha – Celeiro de valor intangível para a história do samba brasileiro, no qual Nasci pra Sofrer, de 1947, se tornou uma espécie de hino da escola. Entre as principais figuras da escola, encontra-se Seu Alfredo Costa – o ditador da Serrinha e sogro de Ivone, eleito Cidadão Samba, derrotando Cartola –, Aracy Costa, a Dona Iaiá, sogra de Ivone e exímia passista, e o time de compositores: Sebastião Molequinho, João Gradim, Mano Décio da Viola, Silas de Oliveira, Mestre Fuleiro, Tio Hélio, Euzébio Delfino Coelho, entre outros.
Império Serrano – Destaque para Os Cinco Bailes da História do Rio (1965), de Ivone, Bacalhau e Silas de Oliveira, o maior compositor de samba-enredo de todos os tempos (Aquarela Brasileira, de 1964; Exaltação à Bahia, de 1966; São Paulo, Chapadão de Glórias, de 1967; Pernambuco, Leão do Norte, de 1968; e Heróis da Liberdade, de 1969. Com a Império, Dona Ivone foi primeira mulher a entrar para a ala de compositores de uma escola de peso. Ainda assim, ela preferiu permanecer como madrinha da ala e desfilar nas Baianas da Cidade Alta, cujas fantasias eram bordadas por ela. Em 2012, a escola de Madureira trouxe Ivone como enredo.
Portela – A rivalidade entre Império e Portela é histórica, mesmo antes da Império existir. Seu Alfredo Costa fundou a Prazer da Serrinha para concorrer com a Vai Como Pode, embrião da Portela, mas a contenda se limitava à avenida. Fora dali, os compositores das duas escolas se davam muito bem e até compunham juntos. Exemplo disso é a capa do primeiro disco solo de dona Ivone, de 1978, em que aparecem integrantes do Império e da Portela. O álbum traz, ainda, duas gravações históricas dela com Alcides Dias, Seu Alcides, o Malandro Histórico da Portela.
A composição do viver
Este eixo trata de aspectos existenciais, pessoais e de sua trajetória:
Carreira – Apresenta os fatos marcantes da carreira de Ivone – discos, personagens importantes, como os produtores – todos vivos – Adelzon Alves, Rildo Hora, Sergio Cabral, Paulão Sete Cordas; capas dos discos, fotos marcantes de turnês, críticas dos discos em jornais de época, prêmios.
Melodias - Esmiúça o veneno das melodias da Ivone, os solfejos “sinfônicos” dos seus lara-raiás.
O caldeirão da “Tia Nastácia” - Os mais chegados dizem que a Ivone sempre foi uma cozinheira de mão cheia. E, vejam, ela sempre conciliou as tarefas domésticas com a enfermagem, com o samba e o carnaval. Destaque para essa declaração dela ao Jornal do Brasil, em 15 de julho de 2004: “Enquanto eu puder dar conta de todos os trabalhos domésticos, estou feliz. Gosto muito de fazer feijoada. Tripa lombeira então... Às vezes estou na cozinha temperando minhas panelas e a melodia vem”. O espaço apresenta um bocado dessa sua vida dividida entre as melodias e as panelas, com o cavaco no meio e algumas receitas dela.
Tanger as cordas do hoje
Ivone trilha os seus passos, cada vez mais miudinhos, e a sua obra, permanece muito viva.
Primeira-Dama do Samba na boca do povo – Um painel apresenta breves depoimentos sobre Dona Ivone, encaixado a composições de outros em homenagem a ela, como Canto de Rainha, de Arlindo Cruz e Sombrinha, Senhora da Canção, de (Nei Lopes e Claudio Jorge), Dona Ivone Lara, de Martinho da Vila. Caetano Veloso, por exemplo, diz que ela é “a coisa mais linda do Brasil”; Nelson Sargento: “Se a música tivesse forma humana, seria Dona Ivone Lara.”
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