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Vida, arte e criação de Dona Ivone Lara

inspiram a mais nova Ocupação do Itaú Cultural

A história da Rainha do Samba, dos parceiros, amigos, colegas, das celebrações, escolas, carreira, e ela, hoje, são matéria prima para a 23ª mostra da série criada para apresentar artistas de referência no Brasil. Programação musical e atividades educativas paralelas complementam a mostra.

 

Como uma sacerdotisa da criação, a rainha do samba chega na Ocupação Dona Ivone Lara. Com curadoria compartilhada entre a equipe do Itaú Cultural e o compositor Tiganá Santana, e consultoria do jornalista Lucas Nobile, a exposição vai de 16 de maio (sábado) a 21 de junho. Abre com a apresentação musical do Samba Virado, ao lado do espaço expositivo, dando o tom à justa atenção à matriarca do gênero. Um dia depois, Tiganá Santana e Fabiana Cozza fazem show em sua homenagem. Até o fim do mês, sempre aos finais de semana, estão programadas visitas educativas relacionando a temática da cantora a obras expostas no Espaço Olavo Setubal, situado nos 4º e 5º andares do instituto. Todo o espaço expositivo oferece acessibilidade para surdos.

 

Ocupação Dona Ivone Lara apresenta a história desta mulher que, com mais de 90 anos, segue cantarolando e ocupando lugar de destaque na cultura do país. Não à toa, a madrinha da ala dos compositores da Império Serrano, da qual já foi enredo, é, para Caetano Veloso, a coisa mais linda do Brasil, e a forma humana da música, segundo Nelson Sargento. Órfã de pai e mãe desde a infância, Dona Ivone aprendeu a tocar cavaquinho com um tio. Foi admirada por suas professoras de música, Lucília Villa-Lobos, mulher do maestro, e Zaíra Oliveira, casada com o compositor violonista brasileiro Donga. Teve amigos como Pixinguinha, e outros mestres da música brasileira, e foi indicada para o Orfeão (coro) dos Apinacás, da Rádio Tupi, cujo regente era Heitor Villa-Lobos.

 

Ela é a primeira mulher sambista a protagonizar um Sambabook. A obra será lançada ainda este ano, com produção da MUSICKERIA, patrocínio do Banco Itaú e apoio do Itaú Cultural. Conterá uma biografia encartada com assinatura de Nobile.

 

A exposição

Com esse espírito, a curadoria desfia a vida da sambista em cerca de 100m2 no Piso Paulista do instituto. Ocupação Dona Ivone Lara não segue cronologia, nem didatismo, embora traga centenas de imagens, fotografias, audiovisual, música, objetos, vestidos, cavaquinhos e outros instrumentos musicais. A mostra segue por cinco eixos temáticos: O canto dos mais velhos, O bordado dos encontros, O enredo da festa, A composição do viver, e Tanger as cordas do hoje.

 

O primeiro, O canto dos mais velhos, alinha a sua história com a dos ancestrais e figuras importantes em sua formação. Entre eles, Emerentina Bento da Silva, sua mãe, crooner do rancho Flor do Abacate, um dos mais famosos do Rio e frequentadora de outro rancho tradicional, o Ameno Resedá. Ou o tio Dionísio Bento da Silva, um dos precursores do trombone no choro, que tocava no Bloco dos Africanos e dedilhava violão sete cordas e um cavaquinho, no qual Ivone aprendeu a tocar.  Em saraus na casa dele em Inhaúma, a pequena se juntava a nomes como Pixinguinha, Jacob do Bandolim, ou Cândido Pereira das Neves.

 

O casal Villa-Lobos também está entre as personalidades que ajudaram a germinar a semente da música na jovem aspirante a cantora. Lucília, por exemplo, foi a principal descobridora da voz de contralto de Ivone. Outra figura importante em sua vida foi Zaíra de Oliveira. Soprano de formação clássica, casada com Donga e profissional premiada, foi a sua professora nas aulas de canto orfeônico.

 

O segundo eixo, O bordado dos encontros, trata dos parceiros, amigos e colegas, em diversos momentos. Vale ressaltar Oscar Costa, marido ciumento com quem Ivone foi casada de 1947 a 1975. Filho do fundador da Prazer da Serrinha, Seu Alfredo Costa, ele gostava de música, mas não admitia que a mulher circulasse no meio da boemia.

 

A relação de Ivone com Nise da Silveira joga luz sobre outro aspecto da vida da artista. A futura cantora foi enfermeira e assistente social, especializada em Terapia Ocupacional e trabalhou no Serviço Nacional de Doenças Mentais como auxiliar da psiquiatra alagoana – uma referência no tratamento psiquiátrico por meio da arte. Ivone somente deixou o lugar, em 1977, para se dedicar inteiramente à música, levando o samba brasileiro para todos os rincões do país e alimentando o seu reconhecimento internacional.

 

Ainda neste eixo, encontram-se referências a parceiros como Delcio Carvalho; Jorge Aragão, Hermínio Bello de Carvalho e Silas de Oliveira, que constam na lista do Ecad das composições de Ivone mais regravadas. Outras grandes personalidades de seu universo musical e das letras também figuram como grandes parceiros – entre eles, Sombrinha, Arlindo Cruz, Nelson Sargento, Caetano Veloso, Bruno Castro, André Lara (neto), Nei Lopes, Mario de Andrade, Zé Luiz do Império.

 

As celebrações, assim como as escolas de samba Prazer da Serrinha e Império Serrano, compõem O enredo da festa, no terceiro momento da Ocupação. Em seguida, A composição do viver trata de aspectos pessoais e de sua trajetória. Fatos marcantes de sua carreira entre capas dos discos mais emblemáticos, personagens importantes, como os produtores – todos vivos – Adelzon Alves, Rildo Hora, Sergio Cabral, Paulão Sete Cordas; fotos de turnês, críticas dos discos em jornais de época, prêmios.

 

Apresenta também o lado caseiro de Dona Ivone, mas nem por isso menos musical. Ela, uma cozinheira de mão cheia, sempre conciliou as tarefas domésticas com a enfermagem, o samba e o carnaval. O espaço mostra um bocado dessa sua vida dividida entre as melodias e as panelas, com o cavaco no meio e algumas receitas dela.

 

Tudo isso, é apresentado sem linearidade, mas sim como uma espiral, até chegar ao Tanger as cordas do hoje, quando Ivone trilha os seus passos, cada vez mais miudinhos, mas firmes, e a sua obra, permanece muito viva. Prova disso foi a gravação de Nova Era, composição dela e Delcio Carvalho, no disco Zerima, de Luiz Melodia, no ano passado.

 

Programação paralela

Uma roda de samba marca a abertura da exposição, no dia 16 (sábado) às 12h e às 17h, com o grupo Samba Virado – voz e violão de Edinho Almeida, cavaquinho de Ricardo Perito e as percussões de Mestre Nico, Tiganá Macedo e Victor Eduardo –, vai fazer o público cantar e dançar. A formação é especial para a homenagem a Ivone Lara e as releituras musicais a reverenciam ressaltando, nelas, o caráter à frente de seu tempo da produção da artista.

 

No dia seguinte, domingo, 17, às 19h, Tiganá Santana e Fabiana Cozza se reúnem no palco da Sala Itaú Cultural em show que ressalta o encontro e a tradução recíproca entre dois artistas e a sua formação afro-brasileira, dando-lhe novo significado. Marcado em sua maioria por canções compostas pelo cantautor, dá uma mostra do disco em produção por ambos. O espetáculo dialoga com outros autores, inclusive D. Ivone Lara, de cuja homenagem a apresentação faz parte. O violonista Leonardo Mendes participa do encontro, que acontecerá pela primeira vez com esta configuração.

 

O Itaú Cultural reserva o último domingo de cada mês para ocupar a Rua Leôncio de Carvalho – ao lado do instituto, esquina com a avenida Paulista – com shows, oficinas e outras atividades voltadas para toda a família na programação Se Essa Rua Fosse Nossa. No dia 31, às 11h e às 15h30, em homenagem à rainha do samba, Mulheres tocam na rua para Dona Ivone apresenta dança e brincadeiras com o bloco Ilú Obá de Min.

 

Composto exclusivamente por mulheres, o bloco sai às ruas de São Paulo há 10 anos, celebrando a cultura afro-brasileira e destacando a participação feminina no mundo. Nessa apresentação, tocam e cantam em harmonia com Dona Ivone Lara. Completam a programação o coletivo Confraria da Colagem e a Casa do Brincar. Confira a programação completa no site www.itaucultural.org.br

 

Visitas Educativas

A equipe de educadores do Itaú Cultural elaborou uma programação especial para a Ocupação Dona Ivone Lara, nos dias 16 e 17, 23 e 24, e 30 e 31 (sábados e domingos). O público está convidado a participar de ações educativas que abordam, de diferentes modos, conteúdos presentes nesta mostra, relacionadas com obras expostas no Espaço Olavo Setubal, a qual abriga a coleção Brasiliana e de Numismática do Itaú, nos 4º e 5º andares do instituto.

 

Nos dias 16, 17 e 30 e 31 (sábados e domingos), o tema é A Cultura Africana o nascimento do samba, com classificação etária livre. Em mais um fim de semana do mesmo mês, 23 e 24, a visita se chama Candeeiro da vovó. Trata-se de uma visita-oficina, voltada para as famílias e o público infantil, que começa no Espaço Olavo Setubal e termina com uma atividade na Ocupação durante a qual os participantes são convidados a criar objetos com base em composições da sambista.

 

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