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JARDS MACALÉ POR INTEIRO NA MAIS NOVA MOSTRA DA SÉRIE OCUPAÇÃO DO ITAÚ CULTURAL

 

O cantor e compositor carioca, nascido há 71 anos na Tijuca, ao pé do Morro da Formiga, é homenageado nesta mostra que traça a sua trajetória e revela suas diversas facetas com cerca de 300 itens entre fotos, vídeos, músicas, textos, discos, cartas, recadinhos, revistas e objetos; em programação paralela, o Itaú Cultural oferece oficinas de pipas e de HQ e um espetáculo de mágica com o ilusionista Elacam Tená,  ele próprio, ao lado do assistente Ibrelam Odracir (Ricardo Malerbi); para marcar a abertura da mostra no instituto, à noite faz show no Auditório Ibirapuera com a banda Let’s Play Thate  participação de Miriam Maria

 

O Itaú Cultural abre no dia 31 de maio, às 11h, a Ocupação Jards Macalé, a 18ª exposição da série promovida pelo instituto, em homenagem a este artista mestre dos contrastes, segundo o poeta Paulo Leminski, polêmico, irreverente, colecionador de HQs, fã de personagens como Super Homem e Batman, e entidades como São Jorge, apaixonado por pipas, e defensor do da inclusão da palavra Amor na bandeira nacional – “Amor, Ordem e Progresso”. A curadoria é dos núcleos de Música, de Comunicação, e de Produção do Itaú Cultural. Leva, ainda, uma assinatura que transita do universo literário para o espaço expositivo: o olhar lúdico do escritor Lourenço Mutarelli, o qual cuida, ainda, da concepção visual da mostra.

 

Composta por cinco eixos curatoriais, a Ocupação Jards procura desvendar a personalidade pública e particular do compositor, intérprete, violonista, arranjador, ator, produtor e diretor musical. São eles: influências, política, amor, HQ e obra. Entre cerca de 300 itens, reúne vasto acervo de fotos, cartas, revistas, objetos pessoais, cartazes de shows, trechos de produções para cinema. A trilha sonora ouvida em todo o ambiente mescla a musicografia do autor de clássicos como Vapor Barato com obras de outros compositores que o influenciaram artisticamente.



A MOSTRA

No espaço do piso térreo do instituto, cerca de 120m2 reservados para este tipo de mostra, o público visita a Macalândia, terra do sonho, da poesia, da guerra​, da dor ​e da alegria de um artista​ que sempre assumiu pagar o alto preço para ser quem foi e quem é.  Na entrada, o visitante ultrapassa o abismo da porta principal, ao qual o compositor se refere em sua música Gotham City.  Em seguida, entra no mundo musical de Macalé composto por seus discos, LPs de vinil, CDs e cartazes de shows.

 

Em uma espécie de corredor da família, se acompanha os seus primeiros anos de vida, desenhos feitos por ele, como o que reproduz o pai, um oficial da marinha, ou a carta que enviou aos pais e a uma das avós negociando a mesada. Outros quadros emolduram cartas, bilhetes, textos e fotografias de sua vida, amizades, viagens, provocações e amores. Ali se encontram recados de Maria Bethânia e Torquato Neto endereçados a Ligia Anet, sua mãe e grande ídolo, manuscritos no período em que, com Caetano Veloso, nos primórdios da Tropicália, aportaram em sua casa no Rio de Janeiro.

 

São singelezas como o bilhete de Bethânia pedindo “à tia” para ser acordada cedo, Torquato Neto avisando que está dormindo “lá embaixo” com Caetano, o filho pedindo à mãe que o avise quando for à rodoviária, para que possa acompanha-la, e ela respondendo que não teve coragem de acordá-lo porque foi dormir muito tarde.

 

Encontra-se também documentos históricos como a carta enviada por Caetano Veloso do exílio em Londres pedindo a sua presença para produzir o que depois se tornaria o disco-ícone Transa. Outras, como a do amigo Hélio Oiticica, ou de Lygia Clark, sua mãe estética – e o chapéu que ela fez para ele. Tem bilhetes como o do poeta Paulo Leminski que o chama de “mestre dos contrastes, amigão em pessoa e música.” E, ainda, missivas e textos do próprio Macalé, como um que ele fez falando sobre o amor, as mulheres, a poesia.

 

Depois de observar centenas de fotos do compositor com os amigos – como a do casamento simulado com o poeta Wally Salomão –, o observador continua o percurso e chega a um espaço dedicado ao grande amigo Torquato Neto, morto precocemente. O percurso leva a outros nichos onde se descobre quem o influenciou – como John Cage de quem há o registro de uma partida de xadrez que os dois disputaram, e de Moreira da Silva e Severino Araújo a Dorival Caymmi, entre os brasileiros.

 

Mais um espaço trata de sua relação com a política. Há antigos recortes de jornais, testemunhas de sua rebeldia e anarquismo. Alguns relatam a prisão do cantor por incluir um número não combinado com os censores em um show com Moreira da Silva. Outros revelam a tensão, em dezembro de 1973, quando ele organizou o show O Banquete dos Mendigos, com Raul Seixas, Dominguinhos, Chico Buarque, Johnny Alf, Gal Costa e outros para celebrar – em plena ditadura militar – os 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Foi no Museu de Arte Moderna do Rio, em parceria com a ONU, e as músicas eram permeadas por artigos da Declaração dos Direitos Humanos, como o que condena a tortura, levando o público ao delírio. Os músicos não saíram de lá presos, mas escoltados pelo polícia e o disco resultante desse show foi censurado.

 

Uma carta que ele enviou ao general João Figueiredo, então presidente, dá pistas de sua relação com a cultura brasileira. Nela, Macalé defende o Teatro Opinião, o MinC para amparar a música nacional, e Celso Furtado para o ministério. Outros artigos mostram mais feitos irreverentes do cantor e, novamente, a sua preocupação com os assuntos culturais. Um deles lhe custou caro: o encontro com o então ministro Golbery Couto e Silva, um dos principais articuladores do Golpe de Estado no Brasil em 1964, e o um dos criadores do Serviço Nacional de Informações (SNI). Ele foi solicitar a liberação, pela censura federal, do álbum O Banquete dos Mendigos e apresentar um plano cultural para o Brasil. O projeto defendia que os terreiros e a música brasileira deveriam “invadir os EUA​ para equilibrar o jogo” e indicava Clementina de Jesus e Moreira da Silva como embaixadores do Brasil em Nova York.

 

Este encontro com um dos principais articuladores da ditadura não desceu pela garganta de parte da mídia e da opinião pública. Piorou quando, em uma entrevista sobre o assunto, ele disse que no Brasil a esquerda é de direita. Todo o episódio foi um duro golpe em sua carreira.

 

No entanto, o histórico de Macalé é anarquista, libertário, claramente anti-ditadura e isso se vê nesta Ocupação. Não falta, por exemplo, a réplica do gorila de 12 metros de altura, o King Kong, que em uma alegoria ao regime militar animou um de seus shows nos anos 70.

 

Ainda seguindo pela Macalândia, o público entra na caverna, uma espécie de lugar secreto dos super heróis de que ele tanto gosta. Neste mesmo espaço, o visitante entra em uma espécie de banheiro público, como os de bar, para assistir a filmes sobre o compositor. Cabines telefônicas abrigam quem atender ao telefone para ouvir histórias a respeito do cantor e suas músicas. Uma salinha, esta com entrada proibida para menores, apresenta sua coleção de quadrinhos eróticos como os de Carlos Zéfiro.

 

Por fim, o visitante entra no universo mais lúdico do compositor, o da coleção e confecção de pipas, réplicas de super-heróis, sua coleção de HQs – todas originais, algumas do número 1, já inexistente –, e outros fetiches do músico. Na saída, passa por um chuveiro onde, ao som de Juízo Final, toma um banho sem água. É uma espécie de benção para continuar o dia leve e na paz de Macalé.

 

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