PRESS KIT
 
No Paço Imperial, a Ocupação Zuzu apresenta abrangente trajetória da vida e obra de uma das mulheres mais singulares da história do Brasil


Mostra sobre a vida, obra pioneira na moda e militância de Zuzu Angel contra a ditadura militar chega ao Paço Imperial

Ocupação Zuzu, realizada pelo Itaú Cultural em parceria com o Paço, apresenta no Rio de Janeiro cerca de 400 itens referentes à vida e obra desta singular estilista pioneira na moda brasileira e reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho e pela busca do filho, Stuart Angel, assassinado nos porões da ditadura; desde que a mostra foi exibida em São Paulo novos fatos e revelações tem sido trazidos à tona pela Comissão Nacional da Verdade sobre o paradeiro do corpo de Stuart.

A mostra Ocupação Zuzu, idealizada e produzida pelo Itaú Cultural, é apresentada no Rio de Janeiro, de 14 de agosto a 2 de novembro, no Paço Imperial. A data de abertura é a mesma da exposição Oscar Niemeyer: Clássicos e Inéditos, na mesma casa e também em realização conjunta, marcando os 10 anos de parceria entre o Itaú Cultural e o Paço Imperial. Ocupação Zuzu reúne mais de 400 itens e tem curadoria compartilhada de Hildegard Angel, filha de Zuzu, jornalista e criadora do Instituto Zuzu Angel e do Museu da Moda, Itaú Cultural (por meio dos núcleos Audiovisual e Literatura e Educação e Relacionamento), e Valdy Lopes Jn, que também assina a direção de arte da exposição. A exposição foi apresentada em São Paulo onde recebeu um público de mais de 45 mil pessoas em quatro semanas.

Pelo menos 40 dos looks criados pela designer poderão ser vistos pelo público. Entre as peças, figuram quatro criações de Zuzu para noivas; nove trajes que ela usava em seu luto pela perda do filho; três exemplares usados por modelos americanas no famoso desfile de protesto que ela fez em Nova York, no começo dos anos 70, na casa do cônsul brasileiro na cidade; e dois exemplares da série pastoral. Há ainda mais de 30 itens como camisetas, bolsas, porta-óculos, fivelas – todos com os anjinhos que se tornaram a sua referência icônica.

Zuzu desenhava as estampas dos vestidos que criava, trazia rendas do Nordeste para os vestidos de noivas – transparentes e ousados. Concebia ainda a logomarca, a sacola, o papel de carta, a etiqueta, as estratégias de marketing. Lançou uma coleção brasileira, mas em Nova York. Juntou baianas, Lampião e Maria Bonita, working young ladies, pastorais e anjos, e tudo transformou em produtos com sua assinatura. Os estudos e bordados sobre o tema também estão na mostra, assim como mais de 20 croquis, moldes de outras criações, estampas e material gráfico que ela criou para etiquetar e embrulhar o seu trabalho.

A Ocupação Zuzu também apresenta uma documentação original e essencial, a maioria apresentada ao público carioca pela primeira vez, para se conhecer o lado militante da estilista. Em sua busca pelo filho, a Zuzu escreveu e enviou cartas de denúncia a amigos, outras mães de desaparecidos, congressistas americanos, como Henry Kissinger, militares brasileiros, como o então presidente Ernesto Geisel, e intelectuais e artistas, como Chico Buarque. As mais importantes dessas missivas assinadas por ela própria e documentos – alguns inéditos, outros, cópias – e mensagens recebidas de amigos que a encorajaram ou lhe deram os pêsames também estão na exposição, assim como artigos publicados sobre ela na mídia nacional e internacional.

Movimento na Ocupação Zuzu
Durante todo o período da exposição, em dias alternados (veja horários abaixo), atrizes dirigidas pela estilista e consultora Karlla Girotto farão performances-surpresa entre o público. Vestidas com réplicas de roupas desenhadas por Zuzu, elas lerão trechos de suas cartas.
A exposição traz, ainda, material audiovisual de grande valor histórico, como trechos do desfile de protesto, realizado em Nova York, e objetos e fotografias de seu filho eliminado pelo regime, Stuart Angel Jones – muitos apresentados ao público pela primeira vez.

Criadora, mãe, empresária, militante, Zuzu
A designer, como gostava de ser chamada, e empreendedora Zuleika Angel Jones, pioneira na moda brasileira, reconhecida internacionalmente, construiu uma das trajetórias mais notáveis no setor. Do trabalho voluntário para as obras sociais da primeira dama da época, Sarah Kubistchek, onde costurava uniformes escolares, Zuzu Angel, com três filhos e separada do marido, montou uma pequena oficina de costura dentro de sua própria casa. Sempre querendo mais, ela passou a criar seus próprios modelos, acessórios, estampas, bolsas. Construiu carreira internacional, principalmente nos EUA. Abriu a sua loja e oficina e o sucesso foi tanto que chegou a dizer “Eu sou a moda brasileira”.

Zuzu criou e produziu moda como ninguém à época. E procurou tornar a alta costura acessível a todas as mulheres. Dizia que o seu sonho era ver pessoas vestindo seus modelos no ponto de ônibus. Usava cores, estampas, bordados. Misturava renda, seda, fitas, chitas com temas regionais e do folclore como estampas de pássaros borboletas e papagaios. Era uma “costureira”, como se chamava uma mulher que produzia criações na moda, que pensava vestidos, bolsas, lenços, lençóis.

“Hoje, olhando os vestidos de mamãe dependurados nas araras, alguns já praticamente sexagenários, porém, passados a ferro, empertigados, aparentando juventude e prontos para viverem seu momento de glória na Ocupação Zuzu, do Itaú Cultural, e agora no Paço Imperial, eu me faço a pergunta, pasma até: ‘Como consegui guardar, preservar, reunir tudo isso?’”, continua Hildegard.

Na passagem dos anos 60 para os 70, no auge da sua criação, Zuzu e suas filhas sofreram a grande perda do filho Stuart Angel, militante do MR8, preso e morto pelo regime militar. A partir dai, ela tornou a busca do filho sua grande militância. Mas isso não a fez parar de criar, produziu vestidos que são verdadeiras narrativas contra a opressão do regime e produziu seus desfiles de protesto político. Passou a usar apenas o preto do luto, mas criou estampas cada vez mais coloridas de Brasil.

“Minha mãe passou seus últimos anos de vida juntando fragmentos da memória de meu irmão Stuart, como se através deles quisesse recompor o corpo que não conseguia encontrar para enterrar”, escreve Hildegard Angel em seu texto sobre a mostra.

Zuleika Angel Jones morreu na madrugada de 14 de abril de 1976, aos 54 anos de idade, em um acidente de carro no Rio de Janeiro, na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos hoje batizado com seu nome. Comprovou-se, depois, assassinada pelo governo, como Stuart morto e desaparecido em 1971 e cujo caso continua sendo examinado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV). Recentemente, a CNV ouviu e divulgou o depoimento do capitão da Aeronáutica reformado Álvaro Moreira de Oliveira Filho, segundo o qual o corpo do ex-dirigente do MR-8 teria sido enterrado na cabeceira da pista da Base Aérea de Santa Cruz.



VOLTAR