A vida, obra e processo de criação de veteranos consagrados vêm sendo revisitada há cinco anos pela série Ocupação do Itaú Cultural

Idealizada para fomentar o diálogo da nova geração de artistas com os criadores que os influenciaram, a série de ocupações no Itaú Cultural integra o trabalho perene do instituto com programas como o Rumos, que há 17 anos incentiva a produção contemporânea colaborando para o aprimoramento dos artistas, a difusão de suas obras e a reflexão sobre a arte atual

Neste ano, a primeira da série é a Ocupação Zuzu, a décima sétima promovida pelo instituto desde 2009. Essa mostraé a única até agora a se estender pelos três andares do espaço expositivo do Itaú Cultural, e tratar do tema moda. A continuidade da série está apoiada na linha conceitual do instituto que acredita na valorização da cultura e da educação como ferramentas essenciais na construção da identidade de um país.

Desta forma, a série Ocupação foi criada para apresentar a vida, obra e processo de criação de veteranos consagrados que servem de referência e influência às novas gerações de artistas que despontam em todas as áreas de expressão. A preservação da memória artística também faz parte dessa atuação, com a digitalização dos acervos de personalidadesd do mundo cultural brasileiro como Leonilson, Jorge Andrade, Oscar Niemeyer, Flávio Império, Elomar.

Esta vocação se encontra, ainda, na Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. Com cerca de 8 mil verbetes com vídeos, entrevistas, biografias, análise de obras e informações variadas reúne, em uma só plataforma, conteúdos sobre Artes Visuais, Arte e Tecnologia, Teatro e Literatura, Música, Cinema e Dança, cobrindo toda a complexidade do universo artístico do país, .

Ocupações anteriores

A exposição inaugural da série foi dedicada a Nelson Leirner. Com curadoria de Agnaldo Farias, contou com quatro das obras mais representativas realizadas nos anos 60 pelo artista e apresentou a sua versão atualizada pelo próprio artista, em uma espécie de diálogo contemporâneo entre elas. As obras escolhidas foram: Porco Empalhado e Tronco com Cadeira, Homenagem a Fontana II e Stripencores.

O segundo homenageado foi o dramaturgo José Celso Martinez Correa, com curadoria de Marcelo Drummond. Em 169 metros quadrados, centenas de fotos e documentos compuseram a exposição, além de 12 sets com cenários representativos de cada época, 33 monitores, sete projetores e mais de 160 porta-retratos com imagens da infância, família, escola e até namoradas do araraquarense, incluindo textos inéditos escritos a próprio punho.

A terceira mostra da série foi a Ocupação Leminski, que refez o percurso do poeta por meio de poemas, inclusive alguns inéditos, preciosos manuscritos que revelavam a gênese de seu anti-romance Catatau, depoimentos pessoais gravados em vídeo e shows musicais.

Em dezembro de 2009, a Ocupação Abraham Palatinik foi a quarta realizada pelo instituto. O Itaú Cultural apresentou 21 obras deste artista que é pioneiro da arte cinética e cinecromática. A exposição teve curadoria da historiadora Aracy Amaral.

A Ocupação Chico Science abriu a série em 2010. A exposição feita sobre o precursor do Maguebeat foi organizada pelos núcleos de Música, Comunicação e Produção do Itaú Cultural. A mostra percorreu a história do movimento musical, que mescla ritmos regionais com rock, hip hop, maracatu e música eletrônica, para assim revelar o universo criativo do cantor pernambucano. O encontro não aconteceu só com a música, mas também com o cinema, a arte visual, a literatura, por meio de cartazes, esculturas, obras, capas de discos, fotos dele, de amigos, pessoas, shows e lugares, além de filmes, roupas, objetos e toda série de ícones “manguebeatianos”.

Em seguida, a Ocupação Rogério Sganzerla apresentouanotaçoes manuscritas, roteiros originais, trechos de filmes inéditos, fotos familiares e profissionais do cineasta. A curadoria foi de Joel Pizzini. A sétima ocupação foi a de Regina Silveira, idealizada pela própria artista. A mostra ocupou o espaço com um conjunto de 10 maquetes de obras site specific realizadas por ela sobre arquiteturas diversas, entre 2004 e 2007.

No início de 2011, foi a vez da Ocupação Haroldo de Campos – H LÁXIA. Ela apresentou a trajetória do escritor “transcriador”, com ênfase em seu processo de criação como poeta, tradutor e crítico. A Ocupação Flávio Império, ainda naquele ano, trouxe uma faceta menos conhecida desse artista de múltiplas linguagens: a serigrafia. Essa ocupaçãomesclou o ambiente do atelier do artista ao das festas juninas com os santos João, Pedro e Antônio, que ele tanto apreciava, além de expor 16 telas matrizes serigráficas originais, cujas reproduções puderam ser serigrafadas pelo público em tecidos oferecidos pelo instituto ou em qualquer peça pessoal que levassem. O evento marcou, ainda, o início dos trabalhos de digitalização do seu acervo e da construção do site sobre sua vida e obra, com apoio do Itaú Cultural.

Cildo Meireles configurou a décima Ocupação, com a obra inédita do artista rio oir que tomou todo o espaço cenográfico criado no Itaú Cultural pelo curador do projeto, o arquiteto e urbanista Guilherme Wisnik, e pela designer da obra Noni Geiger. A obra é partede um projeto idealizado por Cildo nos anos 70 e retomado a convite do Itaú Cultural. A execução da obra resultou, ainda, no documentário Ouvir o Rio: Uma Escultura Sonora de Cildo Meireles. O filme de Marcela Lordy, sobre os bastidores da construção da obra entrou em cartaz no fim do ano passado nas salas Itaú de Cinema das cidades de São Paulo, Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador e hoje segue em itinerância pelo país.

Um dos principais nomes da dança brasileira, o Ballet Stagium, companhia fundada pelos bailarinos Marika Gidali e Décio Otero fez parte da décima primeira Ocupação do Itaú Cultural. Registros de aulas, ensaios, espetáculos e bastidores de viagem, suas influências e referências na dança brasileira foram retratadas na exposição.

A Ocupação Nelson Rodrigues homenageou o dramaturgo com fotos de diversos acervos, jornais, pôsteres, revistas, entrevistas sonoras, visuais e impressas. Já na décima terceira Ocupação da série, o cartunista e chargista Angeli teve expostas cerca de 800 obras – 80 delas originais – além de suas fotos com familiares, amigos e em locais de trabalho.

Com curadoria de Walter Carvalho, a Ocupação Antônio Nóbrega levou os visitantes a um mergulho na vida e obra do artista e a descobrir suas diferentes paixões pelo Brasil. A Ocupação Mário de Andrade, décima quarta da série apresentou mais de 400 itens entre cartas, filmes, fotografias e objetos do escritor, nunca antes reunidos em um só conjunto.

O cineasta Nelson Pereira dos Santos também foi um dos homenageados pelo Itaú Cultural, com a exibição de trechos de filmes do diretor, além de outros vídeos feitos sobre ele. A Ocupação Sérgio Britto, última realizada em 2013 e antecessora da Ocupação Zuzu, percorreu os 65 anos de carreira do ator, em um espaço idealizado pelo cenógrafo José Dias, também figurinista e autor de obras de fôlego como Teatro do Rio do século XVIII ao século XX (Funarte), relembrando o ambiente que o artista adorava: o teatro. A exposição teve curadoria de Hermes Frederico, coordenador da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e coordenação de Marilia Brito, sobrinha do ator.